terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

As letras estão na garganta

Tenho Letras espalhadas em cima da mesa. E não sou capaz de formar palavras com elas.
Eu vejo um A bem longe, num canto da mesa que eu não conseguiria alcançar... (meus braços são muito curtos para alcançar o ego).
Sem querer (juro) deixei cair um M embaixo da minha cadeira, mas não consigo enxergar.... (meus olhos estão fechados para qualquer novidade que me tire daqui).
Escuto a música, tão baixa quanto o susurro, tão longe que parece que alguém também chora baixinho ao ouvir... I miss you, miss you... e quando vou procurar meu O me lembro que esqueci ele debaixo dos sonhos que confundi com realidade.
Agora parece que vejo notas musicais flutuando pelo ar que nem sei se respiro, meu estômago dói de fome, meus olhos estão quase fechando de sono... mas eu insisto em desenterrar o R que plantei no meu jardim de flores de plástico.

É tudo uma mentira,
Eu finjo que estou vivendo.

As minhas letras nunca tinham pousado antes, na mesa ou no chão. Colavam-se ao teto, ou às paredes, e ficavam a piscar muito... até me obrigarem a ir buscar buscá-las, e juntá-las. Às vezes, voavam e eu tinha de saltar, até as conseguir agarrar. (A felicidade não cai em nossas mãos, temos que alcançá-la).
Agora, tenho Letras espalhadas em cima da mesa. E eu nem sou capaz de as ordenar...

Mas, essas letras fazem doer?

Certamente não. Mas incomoda não saber juntar.
Faz doer não entender.
Faz doer não saber se se tem de chorar tudo duma vez, ou se se tem de sorrir tudo o que há para sorrir.

Pontos de interrogação me incomodam. E os pontos finais também.
Prefiro as reticencias... essas mesmo com três pontinhos que transforma o não ter o que dizer em uma forma de silenciar...

Tenho Letras e Pontos, espalhados na mesa.
Há um R rodeado de pontos de interrogação, escuros escuros escuros. E há um ponto final vizinho dum A, branco branco branco (hoje acordei com tanto frio...)
As minhas mãos são tão geladas e coladas ao C, e aquele dia que consegui abri-las o vento assoprou o resto das minhas Letras o...r...a...ç...ã....o. Não, não é fixação ou paixão. É só o efeito das unhas pintadas de vermelho. (Porque dizer que, além das unhas, o coração também está pintado de vermelho, é dizer que já nada faz sentido...).
Vermelho foi sempre só mais uma forma de Vida.
E de gritos e risos estridentes. (Estúpidas maneiras de tentar chamar a Vida, quando na verdade ela já se escapou). Bom, que seja...  A importância foi-se embora mesmo... juntamente com o brilho das Letras. E nem esse vermelho estúpido aquece minhas mãos, pensa então se vai aquecer as Letras, para se juntarem e formar novamente as palavras que perdi.
Minha boca está tampada, com a fita do meu desânimo.
Meus dedos gelados e meus braços, meus braços... estão envoltos no meu corpo a me abraçar como uma forma de me proteger antes que me negue o abraço.

~/Basta.
Me basto.

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