sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

A música ainda continua a tocar, baixinha. De longe ouço alguém querendo acompanhar, e por vezes erra a letra. Parece estar fazendo café, pois sinto cheiro de manhã de neblina e ouço este som que me faz virar novamente e dormir.
O jardim seco, as flores caindo e lá longe vejo alguém correr, quando de repente começa a me chamar. As vozes que escuto parecem estar perdendo a força, como se a pilha estivesse com defeitos. Basta um toque, um estímulo para que começe a fluir. 
O balanço está estão despedaçado que eu pego um verniz para tentar concertar. Isso me lembra tanto filmes, fitas e fitas a rodar projetando ali um desejo incontrolável, mas tenho vergonha de contar. Pinto a madeira, tento colar cada pedacinho que está se soltando, tiro a ferrugem da corrente que o segura e espero secar.

Enquanto espero me lembro das nuvens que passam parecendo me dizer:
Acredite...

Mas o verde que secou e virou apenas folha caída ao chão, daquela árvore imensa que eu olhava desde pequena e pensava ser a mais forte do mundo me responde:
Cuidado... 

O balanço enfim se seca, e eu posso me sentar e sentir o vento a bater em meu rosto. Parece acariciar o meu pescoço, dissimulado, desejante parece me dizer:
Vem se deitar...

O apetite aperta, contrai os músculos do meu rosto e eu não consigo disfarçar. Aquilo que se quer dizer parece tão insensato que é melhor engolir o medo junto ao gozo de apropriar aquele pensamento só para mim. 

Nostalgia... O vento ainda continua a me tocar e eu sem dó continuo a forçar para ir mais alto, até que eu alcance o seu rosto.

Carícia, desejo, paixão, amor.

Agora acordo com o som baixinho no rádio, o cheiro de café é gostoso. O frio da neblina me incomoda, olho para o lado e você não está.


"Beije-me
Fora da cevada
Todas as noites junto à verde, verde grama
Balance, balance, balance o degrau giratório
Você usará aqueles sapatos e eu usarei aquele vestido."

Kiss Me - Sixpence None The Richer


Nenhum comentário:

Postar um comentário