A música ainda continua a tocar, baixinha. De longe ouço alguém querendo acompanhar, e por vezes erra a letra. Parece estar fazendo café, pois sinto cheiro de manhã de neblina e ouço este som que me faz virar novamente e dormir.
O jardim seco, as flores caindo e lá longe vejo alguém correr, quando de repente começa a me chamar. As vozes que escuto parecem estar perdendo a força, como se a pilha estivesse com defeitos. Basta um toque, um estímulo para que começe a fluir.
O balanço está estão despedaçado que eu pego um verniz para tentar concertar. Isso me lembra tanto filmes, fitas e fitas a rodar projetando ali um desejo incontrolável, mas tenho vergonha de contar. Pinto a madeira, tento colar cada pedacinho que está se soltando, tiro a ferrugem da corrente que o segura e espero secar.
Enquanto espero me lembro das nuvens que passam parecendo me dizer:
Acredite...
Mas o verde que secou e virou apenas folha caída ao chão, daquela árvore imensa que eu olhava desde pequena e pensava ser a mais forte do mundo me responde:
Cuidado...
O balanço enfim se seca, e eu posso me sentar e sentir o vento a bater em meu rosto. Parece acariciar o meu pescoço, dissimulado, desejante parece me dizer:
Vem se deitar...
O apetite aperta, contrai os músculos do meu rosto e eu não consigo disfarçar. Aquilo que se quer dizer parece tão insensato que é melhor engolir o medo junto ao gozo de apropriar aquele pensamento só para mim.
Nostalgia... O vento ainda continua a me tocar e eu sem dó continuo a forçar para ir mais alto, até que eu alcance o seu rosto.
Carícia, desejo, paixão, amor.
Agora acordo com o som baixinho no rádio, o cheiro de café é gostoso. O frio da neblina me incomoda, olho para o lado e você não está.
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